sábado, 2 de julho de 2005

COISAS DA ADOLESCÊNCIA - PARTE I

Até chegar a adolescência, eu participava ativamente. Sempre tive facilidade em me envolver com as atividades e o ambiente da igreja me propiciava isso. (Hoje, o Hanâny meu filho, faz as mesmas coisas no colégio com um grupo de teatro com professor e apoio da Coordenação do colégio, etc.) No colégio que eu estudava, não existia essa atividade, pouco se valorizava os dons artísticos.

Eu não freqüentava nenhum outro lugar; nem casa de tios, acho que um dos motivos era o fato de morarmos muito distante. Passada a fase da novidade nossos únicos parentes que nos visitavam sumiram. Ficamos meio de lado, como se isolados do restante da nossa família.
Na igreja, eu cantava no coral, meu pai era regente, gostava de me apresentar nas peças, recitar poesias, (o Hanâny meu filho, hoje com 13 anos, é sempre requisitado pelo professor de teatro para isso, parece que herdou isso de mim), que herdei dos meus pais, minha mãe sempre cantou, papai conta que rapazinho no interior do Rio de Janeiro, mês de janeiro quando saiam as folias de reis, os reisados. Ele era convidado pra ser o palhaço, e se vestia a caráter e cantava as músicas próprias daquele folclore. Ele contava que a voz dele era própria para o papel, pois era muito aguda. Mais tarde autodidata aprendeu a ler partitura musical e desenvolveu esse dom na igreja.  Tocou violão, acordeom, e sem muita técnica o violino.

Minha mãe logo se tornou corretora e passou a vender terrenos no loteamento Vila Marina onde tinha a nossa casa, e ela fez logo amizade com o gerente da empresa: A Rural e Colonização S.A., o Elbo, o gerente, se tornou amigo da família, todo domingo chegava um ônibus cheio de pessoas que eles levavam para conhecer o loteamento. Esta foi a forma que minha mãe encontrou de ajudar meu pai, no rendimento da família.

Para facilitar nosso deslocamento para fazer compras, ir ao colégio, igreja, etc. meu pai comprou uma carroça e um cavalo. O primeiro que tivemos foi o xerife. Um cavalo alto, elegante, marrom preciso encontrar alguma foto dele.

Essa é a carroça que usávamos com o Xerife e nos levava pra todo lugar.

(o maior fazendo careta é o Edson meu irmão que vem depois de mim e o outro é o Odílio com a cadela princesa, uma pequinês.)






Todos nós gostávamos muito do xerife mas, em especial o Edson, este ficou apaixonado pelo animal, e eram unha e carne. Edson tinha um dom lindo de desenhar cavalos, caminhões e ônibus, eram perfeitos seus desenhos; sua preferência era desenhar o Xerife.

Esse é o Xerife:
Papai sempre fez questão de manter em nossa casa um quadro-negro e giz. E essa era a tela que o Edson usava para seus desenhos.

Na estrada do Riachão, depois do seminário dos Padres, cortava um riacho, não sei se tinha nome, nunca soube. Quando chovia, ali juntava muita areia branca, a chamada areia lavada, e eu, nessa época, com 14 anos; por farra, pegava a carroça, uma pá e ia pro rio, pegar areia. Enchia a carroça com aquela areia limpinha e ia vender, não me lembro o que eu fazia com o dinheiro e nem se fiz isso muitas vezes. Mas, foi assim que conheci a família Bastos, um dos seus filhos o Joca, que ficava sempre por ali, rodeando, me vendo pegar areia, junto comigo iam também outras meninas, colegas do bairro. Ele me disse que seus pais queriam comprar areia e eu fui. Na verdade, era a chance que eu tinha de me aproximar mais dele João Fernandes, nessa época ele era um moreno tipo índio muito bonito e as garotas do bairro todas se encantavam com ele.

Eu paquerava também, mas sempre meio retraída, por causa do meu complexo de inferioridade, embora estivesse muito afim dele, de cara eu já achava que não ia conseguir porque uma das meninas que fazia parte do nosso grupo, não lembro agora o nome dela, o rosto dela acaba de vir na minha mente. Era mais gostosa do que eu. Ela era diferente de mim, era mais mulher.

Então, ir na casa dele oferecer areia para os pais dele era um achado. Fiquei toda animada. A fama da família dele era conhecida, todos sabiam que os pais dele eram nordestinos bravos, e a mãe dele espantava a mulherada que vivia atrás dos seus filhos, morenos bonitos, e as filhas também, mulheres muito bonitas e também muito presas, trabalhavam duro e não tinham nenhuma liberdade, nem de fazer amigos ou receber amigos, ou amigas em casa. Eles eram donos de vacaria. E vendiam leite pela redondeza. Elas iam pro mato cortar capim e chegando em casa cortavam todo aquele capim para o gado comer durante a noite, e de madrugadinha acordavam para tirar o leite. Lá também não tinha água encanada e toda água usada, para a família e para o gado era puxada de um poço muito fundo por baldes amarrados em cordas. E as mulheres eram quem mais faziam esses trabalhos, fora todo o serviço doméstico. Os homens tinham mais regalia, as mulheres tinham que dar a roupa, a toalha, os chinelos, na mão deles, fazer o prato deles. Eu não entendia isso, Pois embora eu vivesse numa casa com mais homens do que mulheres, meus pais sempre nos tratou de forma igualitária, não me lembro de terem privilégios por ser desse ou daquele sexo. Quantas vezes vi meu pai lavando louça, varrendo casa, etc... Então eu estranhava aqueles costumes, mas, me tornei logo íntima da família. Pois os pais dele me receberam de braços abertos, afinal eu era, no conceito deles uma mulher trabalhadeira.

Quando cheguei na casa dele com a carroça cheia de areia branca, fui muito bem recebida por toda família, suas irmãs me adoraram, meu apelido era Sorria. Mas eles passaram a me chamar de Sorriso. Sei lá porque, tinha a impressão que eles achavam mais fácil. Ia sempre pra lá e me juntava à mãe e irmãs e ia pro mato apanhar capim para o gado. O pai dele também me curtia pra caramba. Eu sentia que lá, me aceitavam como eu era, me sentia acolhida; sem cobranças. Ou, 'forçação de barra" pra eu me enquandrar. Mas, o Joca mesmo, esse não ligava muito pra mim, não. Eu é quem dava em cima dele, sem parar. Chorava, sofria e ele além das meninas que sobravam ele tinha um caso com uma mulher bem mais velha que ele, que era o inferno astral da D. Lurdes, a mãe do Joca. Que dava a maior força pra que ele ficasse comigo. Já as irmãs e o pai, achavam que eu estava perdendo meu tempo. Pois ele não quis estudar, não sabia ler, nem escrever, se quer havia tirado seus documentos, já tinha passado da data e muito pra ele se apresentar para o exército. Lembro-me que eu o ajudei a cobrir o nome para tirar RG, e se alistar. Mas, mãe é mãe ali naquele bairro tinha muita gente analfabeta.

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