sábado, 2 de julho de 2005

COISAS DA ADOLESCÊNCIA - PARTE II

Cansada de ser esnobada, dei um tempo de Joca e comecei a dar aulas para o extinto MOBRAL. Não me conformava ver tanta gente bonita e mais velhas do que eu sem ler, sem escrever. Me inscrevi no MOBRAL – MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAÇÃO, era um programa de governo para alfabetização de Jovens e Adultos. Naquela época bastava a pessoa ter cursado o Admissão, ou estar cursando o antigo ginasial, era o meu caso; participava de uma reunião, passava por um rápido treinamento e estávamos aptos para alfabetizar. Mensalmente, recebíamos material, livros cartilhas para distribuir com os alunos e podíamos formar turmas com alunos a partir de 15 anos de idade. Prestávamos relatório mensal, plano de aula e recebíamos um valor que atrasava de dois até quatro meses pra receber. Mas, eu não estava nem aí.

Minha mãe liberou a nossa sala, meu pai muito habilidoso confeccionou as carteiras. Com pouco tempo a sala era pouco e ao invés de uma turma, eu tive que por duas, e ainda assim, não atendia toda a demanda, mamãe então liberou o quarto dela que era grande como a sala, papai confeccionou mais carteiras e convidei minha prima Elizete, aquela que morava em Jacarepaguá que ia com minha tia passar final de semana em nossa casa. Ela topou, e assim nós atendíamos 4 turmas com alunos de 15 anos em diante, Lembro-me nitidamente de uma senhora a Irmã Áurea, ela era evangélica e era louca pra ler a Bíblia. Uma senhora já avó com seus setenta e poucos anos toda feliz, por estar estudando. Depois que completou o curso, ou seja, se alfabetizou, vivia contando pra todo mundo que ia morrer me agradecendo por ter já naquela idade, aprendido a ler e poder estar lendo a bíblia.

Eu tinha 15 anos de idade, dava aula manhã e tarde e estudava à noite no Colégio Batista de Austin.

Lembrança que me deixa feliz, por saber que contribuí positivamente na vida de alguém.

Passaram alguns anos, não sei quantos. Passei a dar aulas num sítio depois do conjunto Rosa dos Ventos, ainda pelo Mobral.. Lá também eu tinha muitos alunos, eu ia de carroça; tenho uma cicatriz na coxa esquerda de uma vez que a carroça passou por cima de uma cerca de arame farpado e eu assim que desci da carroça a cerca voltou pro lugar e cortou minha perna. Corte pequeno, mas, me deixou marca.

Me lembro que fiquei com estafa (esgotamento físico e mental). Essa foi a primeira. Tive que tomar vários remédios que meus pais tiveram que arcar, pois o que eu ganhava era muito pouco e ainda atrasava. Ingessões cavalares na veia pra combater a estafa.

Daí eu, decidi estudar mais e me preparar pra o mercado de trabalho e estudar para conseguir um emprego bom, e ir morar na cidade do Rio de Janeiro, voltar pra Tijuca talvez, ou morar num apartamento na zona sul, até então eu pensava fazer direito e ter uma vida independente, sem casamento e sem filhos. Daí, comecei a fazer vários cursos o primeiro foi: datilografia, depois fiz perfuração, era na área de informática, era equivalente a digitação de hoje, Mas informática naquela época, era um universo muito distante da realidade de qualquer um, quanto mais de uma menina do subúrbio do Rio de Janeiro, (as vezes eu fico intrigada e não consigo me lembrar de onde me viam esses “insight”.) Por isso mesmo, foi difícil, conseguir emprego na área, me profissionalizar.

Fico imaginando se tivesse conseguido um estágio, talvez hoje eu fosse a Analista de Sistema pós graduada e tudo, como eu sonhei.

Como era só um sonho distante, a vida não parava e eu corri atrás de emprego assim que completei 18 anos. E o primeiro que apareceu apesar de ter um diploma de datilografia, ter feito curso de perfuração e estar cursando o ginasial, eu fui trabalhar como frentista de um posto de gasolina na Rua ....... Quase esquina com a Av. Presidente Dutra, Via Dutra. Que liga Rio a São Paulo.

Pense! (como diz aqui no Ceará) Pense! No inusitado. Eu, mulher, negra, de cabelo Black Power, vestida num macacão era igual o de homem, não feminino como os de hoje. Ah! É importante lbrar que isso era em 1975.

Em frente desse Posto tinha um prédio de apartamentos populares e num dos apartamentos que dava de frente para o Posto morava um casal de lésbicas. Nossa ! Eu era a atração, até para elas era estranho; corriam para janela e ficavam de lá olhando, jogando piadinhas.

Trabalhei pouco a tempo lá, acho que foi pra ir pra A Rural e Colonização S.A.

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